Eliminando os parasitas corporativos

Cezar Almeida

Gosto de plantas e atualmente tenho mais de 50 vasos em casa. Não tenho jardineiro, sou eu mesmo que as cuido: rego, adubo, podo, replanto e faço mudas. Os últimos dois meses do ano passado foram bastante intensos e eu tive que fazer muitas viagens profissionais que acabaram emendando com o recesso de final de ano, confraternizações com amigos e família, viagem de férias, enfim, passei menos tempo em casa e as plantas sofreram com minha ausência. O resultado foi que quase metade delas foram atacadas por vários tipos de insetos, desses que se instalam nas folhas e troncos e se alimentam da seiva das plantas, retirando nutrientes necessários para sua sobrevivência e crescimento saudável.

Orquídea

Eu precisava escolher qual método para acabar com os insetos eu iria utilizar (tomar uma decisão) e uma vez escolhido os produtos, comprar e aplicar (agir), foi o que eu fiz. Pesquisei quais eram os insetos (a causa do problema) e qual o melhor método para lidar cada um (as melhores soluções). Durante o processo, notei que hesitei algumas vezes porque eu receava que os produtos pudessem afetar as plantas, afinal se faziam mal a insetos e a humanos (era recomendado que eu utilizasse luvas e evitasse contato com a pele quando fosse aplicar), poderia de alguma forma prejudicar uma plantinha tão delicada como uma orquídea, por exemplo. Mas eu precisava correr o risco para ter de volta minhas plantas saudáveis e bonitas.

Nas organizações podem acontecer situações parecidas com essa que vivi no meu jardim. Às vezes, por conta de algum aspecto conjuntural ou até mesmo pessoal, gestores não dão a atenção devida ao negócio por algum tempo e isso pode fazer com que os resultados comecem a minar, assim como a seiva das minhas plantas estavam sendo desviadas para alimentar insetos parasitas.

O que é preciso fazer em primeiro lugar é diagnosticar qual é o problema e quais são as causas do problema. Atacar o sintoma não resolve, é preciso descobrir qual o motivo dos resultados estarem abaixo do esperado. As minhas plantas estavam com as folhas feias e secas e eu poderia acreditar que isso se dava por falta de nutrientes do solo. Caso tivesse pensado assim, a solução que teria adotado seria adubação e eu teria atacado o sintoma, não a causa do problema. Os insetos ainda continuariam lá e eu estaria fornecendo a eles, e não as plantas, os nutrientes que adicionei ao solo. Muitas decisões baseada em diagnósticos imprecisos podem jogar dinheiro e outros recursos no ralo.

Depois de identificado corretamente o problema e a sua causa, é preciso avaliar qual a solução é a mais indicada. No meu caso, eu escolhi três tipos de substâncias, duas naturais e uma química. As naturais tinha pouco efeito colateral, mas a química poderia afetar a minha saúde e a das plantas. Tive receio, mas segui em frente apesar disso, afinal, eu não podia deixar de resolver o problema por conta do risco de dar errado. Nas organizações é assim também que ocorre, temos que tomar decisões e agir, apesar do risco de falhar e do remédio ser pior do que a doença. Podemos minimizar os efeitos colaterais tomando cuidados, agindo com cautela, mas é preciso sempre atacar o problema. Por exemplo, pode-se aplicar o coquetel anti-inseto apenas em algumas plantas para observar seus efeitos e só depois pulverizar todo o jardim, assim como em uma organização o gestor pode testar sua ideia em algum produto ou unidade específica antes de replicar para todo o sistema. Pode ainda acontecer que a primeira ação tomada não seja a que vai resolver o problema, mas poderá levar a outra e assim ajudar a construir a solução ideal para ajustar o processo ou o produto e atingir os resultados esperados.

Empresários e executivos precisam observar se existe alguma coisa minando os resultados dos negócios. Ás vezes esta bem aparente, basta parar e observar, já em outros casos é preciso investigar um pouco mais, olhar mais de perto e até pedir ajuda de um diagnóstico especializado. Nem sempre a gente vai saber a causa para ataca-la de imediato, mas é preciso investir tempo para ir além dos sintomas para encontrar a solução adequada.

Já exterminei os insetos de quase todas as plantas e meu jardim está voltando a ficar livre de pragas. Algumas plantas já até floriram, mas ainda duas orquídeas precisam de cuidados especiais por mais um tempo e eu vou persistir até acabar de vez com a infestação. E na sua organização, tem parasitas minando os resultados e jogando recursos para o ralo? Caso seja este seu caso, faça o diagnóstico, tome sua decisão e siga em frente.

Fique bem e seja feliz.

DESPERSONALIZAR OS ERROS

Cezar Almeida

Ministrando um treinamento esta semana, um participante me fez uma pergunta baseada em um texto do manual que falava sobre despersonalizar erros.

Vamos então discutir um pouco essa questão. Normalmente as pessoas tendem a ver os erros como pessoais. Daí, ao lidar com o erro, lida-se com a pessoa, não com o problema. “Despersonalizar os erros” é não atacar a pessoa, mas atacar o problema.
Por exemplo:  um funcionário teria que preparar uma apresentação para uma reunião e a apresentação não saiu clara.

Duas abordagens possíveis:
Uma é atacar a pessoa, usando você. A correção do erro passa a ser um ataque, em alguns casos pode até humilhar o outro. Ex.: Você foi ruim na apresentação. Você não soube apresentar direito, você não é claro, você fala demais, você, você, você…

Uma outra forma é atacar o problema. Não a pessoa.
A diferença é sutil, mas a receptividade de quem cometeu a falha muda muito.
Ex.: A apresentação foi ruim. A apresentação poderia ter sido mais clara, mais objetiva.  Ou ainda, através de perguntas: De que maneira poderia ser feita essa apresentação melhor? Ou ainda pergunta a pessoa o que ela achou, se ela poderia ser mais clara da próxima vez. Ou ainda, o que poderia fazer diferente na próxima apresentação para que ela fique melhor?

Veja, no segundo exemplo eu falo da apresentação, não da pessoa. Ela tende ficar muito mais aberta ao invés de buscar justificativas ou ficar ressentida com a minha abordagem. Alguém pode perguntar, mas a pessoa fez a apresentação, ela não sabe que é com ela!?! Exatamente! Mas uma coisa é ela saber que foi ela, outra é ser atacada por quem quer que seja. Afinal de contas, ela não é necessariamente isso ou aquilo, ela fez algo e o resultado do que ela fez é o que interessa ao líder gestor. Sendo assim, ela saberá corrigir e sentirá que, apesar de ter tido um desempenho ruim, ela poderá ser melhor na próxima vez.

Um dos papéis do líder é tornar as pessoas mais fortes, mais capazes e com vontade de realizar. Ao despersonalizar os erros se consegue aumentar a força das pessoas, sem deixar de atacar e corrigir eventuais desvios que possam acontecer.