Cezar Almeida
Na negociação, seja ela pessoal ou profissional, um dos desafios que muita gente encontra é dizer não. Vira e mexe alguém fala comigo que tem esta dificuldade e que se sente mal por não saber como dizer não. Inclusive um dos maiores especialistas em negociação do mundo, William Ury, escreveu um livro sobre o assunto. Em o Poder do Não Positivo, Ury mostra como priorizar e dizer Sim ao que realmente importa ao invés de ficarmos carregados de emoções que vem junto com o Não, seja ela dito de maneira inadequada ou não dito, o que é pior ainda.
Para quem tem dificuldade em dizer não, eu costumo dizer que a melhor maneira de começar é dizendo o que eu chamo de “sim adiado”. Funciona da seguinte maneira: se alguém te pedir algo que você quer dizer não, mas não sabe como dizer, responda sim e adicione um “mais tarde” a frase. Dessa forma, a pessoa fica feliz e sem resposta porque você disse sim e você fica livre do assunto naquele momento. Acontece que muitas vezes o “mais tarde” vai virar “nunca” porque a pessoas vai se arranjar de outro jeito, seja ela mesmo fazendo, pedindo a outra pessoa ou encontrando uma nova solução. Este é um caminho que não vai te livrar de todas as situações, mas acredito que de uma parte delas você vai conseguir.
Já ouviram falar ou conhecem pessoas tão boas em dizer não que se você for pedir dinheiro emprestado a elas, quem acaba emprestando o dinheiro a elas é você? Pois é, essas são as especialistas no que chamam de “não polido”, no “não diplomático”. Este tipo de negativa requer paciência, habilidade com pessoas e capacidade de argumentação. Caso você queira aprender, elas normalmente começam sempre ouvindo atentamente o pedido da outra pessoa. Depois de ouvir elas confirmam e repetem o que foi pedido, fazendo sempre isso com calma, como se estivessem pensando a respeito. Na sequencia, elas reforçam e falam dos aspectos positivos do pedido e até aí ela está envolvendo e conquistando a atenção da pessoa, mas fica por aí. A partir deste ponto, elas começam a argumentar, principalmente através de perguntas, colocando o quão absurdo ou ruim será atender ao pedido de forma que a pessoa começa a achar também e se convence que o melhor é que ela não atenda mesmo. São pessoas perspicazes e persuasivas.
Seja você um habilidoso ou não nesta arte, uma coisa certa sobre este tema é que se deve dizer a resposta que sim ou que não o mais rápido possível, explorando todo o tempo que precisar e dispuser da negociação, como já dito em colunas anteriores. Adiar, dizer que vai pensar sobre o assunto e nunca dar a resposta faz com que se caia no descrédito. A pior coisa para alguém é quando fica “na geladeira”, o outro lhe diz que vai pensar e nunca responde. É um “não velado”, uma espécie de fuga em que quem pediu sabe que o outro não respondeu porque queria dizer não, da mesma forma que quem não respondeu sabe que o outro sabe que ele queria negar, mas ninguém disse nada claramente um para o outro. Este é o pior caminho, um verdadeiro limbo, bastante negativo para as relações pessoais.
Não existe modelo ideal de dizer não e ainda tem muito mais sobre este assunto do que cabe o espaço desta coluna, mas preciso afirmar antes de acabar que um não puro e simples é a solução para boa parte das situações. Com educação e polidez ao falar, um “não” não dói, nem machuca. Deixando claro que o não é para a situação e não se trata de nenhuma rejeição ao outro, o assunto será superado e você verá como não é tão difícil quanto parece, caso seja o seu caso não gostar ou saber como dizer não. Caso você diga não com naturalidade e não veja dificuldade nisso, que bom para você. Sendo este seu caso, apenas garanta que você, além de dizer não para os outros, também tem dito sim a você com frequência.
Sim, isto é o mais importante.
Publicado no site Gente & Mercado e no Jornal Tribuna da Bahia em 21/2/2012.